Nenhuma Dor
O Ferrageiro de Carmona
Suave Caminho
Al Monte Donde Fue Cartago
Idílio
Frustração
Chuva
Se Eu Conversasse com Deus
Topo
Excelso monte do el romano estrago
eterna mostrará vuestra memoria;
soberbios edificios do la gloria
aún resplandece de la gran Cartago;
desierta playa, que apacible lago
lleno fuiste de triunfos y victoria;
despedazados mármoles, historia
en quien se ve cuál es del mundo el pago;
arcos, anfiteatros, baños, templo,
que fuistes edificios celebrados
y agora apenas vemos las señales;
gran remedio a mi mal es vuestro ejemplo:
que si del tiempo fuistes derribados,
el tiempo derribar podrá mis males.
- Gutierre de Cetina
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas:
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das cousas se insunua
Lenta e amorosa em nossos corações.
- Antero de Quental
Foi bonito
O meu sonho de amor
Floriram em redor
Todos os campos em pousio
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor
Só que não houve frutos
Dessa primavera
A vida disse que era
Tarde demais
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais
- Miguel Torga, Diário XV
Como se move a cama nestas
Noites de árvores que gesticulam
Quando pipoca forte a chuva
Brinquedo de lata, a chuva, com garbosos cascos
Trotando por sobre o teto sem fim
Viajando para o passado
Por sobre velhos caminhos o galope da chuva
Escorrega, reduz a marcha, de novo acelera
Atravessando muitos, confusos anos;
Mas ele não consegue jamais dar o mergulho
No ponto mais profundo do passado
Porque o sol está lá.
- Vladimir Nabokov
Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?
- Leandro Gomes de Barros